Qual a comida de santo que não come? Qual comida de terreiro não se deve comer? Qual comida de terreiro de candomblé você não pode comer?


Quais comidas de santo que não se come? Quais comidas de Terreiro de Candomblé que podemos comer?


COMIDA DE TERREIRO — Importância Cultural dos ingredientes que ganham significado também espiritual, com foco nas culturas de Matriz Africana.

Nosso conhecimento foi passado de geração em geração de forma oral, é como aprender a sua própria língua materna, ouvindo em casa sua mãe falar aquilo que mãe e avós dela já ensinavam, e assim sucessivamente, é um aprender informal, diário, cheio de significados, de afeto e de sabedoria ancestral da nossa Matriz, estes saberes, modos de preparo, ingredientes, receitas e afetos... passamos para nossos filhos e netos, perpetuando nossa cultura e nossa história.

Foi com este aprendizado que criei o principal projeto que conduzimos aqui, minha família e eu, na Agrovila Pinhão Manso: o Culinária de Terreiro.

O Culinária de Terreiro nasceu em 2017, dentro de um novo ciclo de vida que escolhemos pra desenvolver aqui no sítio — Posso dizer, que os Santos, a natureza e a terra me chamaram para esta missão que já pulsava dentre de mim, que mexia comigo, e me mobilizava para ter um pedaço de terra.

Isso tudo começou ainda em 2014, quando fechei um ciclo exaustivo de vida atribulada na cidade, envolvida com causas políticas que cumpriram sua função e se esgotaram para mim como opção de vida.

Desde 2014 cultivamos a terra aqui, em contato com a natureza, preservando a mata, colhendo o que a mãe terra tão generosa nos fornece com o nosso trabalho. Aqui plantamos e produzimos o que comemos, o que preparamos para os Santos e o que comercializamos para nossos clientes, completando o ciclo da nossa fonte de renda, tudo de forma agroecológica com todo respeito e cuidado que a terra que nos dá muito merece.

O Culinária de Terreiro é a expressão do nosso saber e da nossa ancestralidade é em torno dele, das comidas e das cerimônias que distribuímos e levamos nossa cultura e saberes para mais pessoas, sem fronteiras e sem preconceitos.

A partir do Culinária de Terreiro, resgatamos a produção do azeite de dendê artesanal, feito no pilão e no fogão a lenha, sem sombra de dúvidas este é um dos produtos de maior referência aqui da comunidade. Com a força do trabalho conjunto, em comunidade, estamos ampliando nossa produção, mais de vinte (20) famílias da nossa agrovila Pinhão Manso – Camaçari-BA integram esta expansão, num projeto de ampliar a produção de frangos e criação de peixe para fortalecimento e geração de renda.

A evolução do nosso projeto inclui também a Casa de Farinha, essencial para esta geração de renda, com a ampliação dos itens que produzimos e oferta de itens para revenda. Desta forma, processamos o produto in natura aqui mesmo na comunidade e transformamos em farinha, beijú, tapioca, carimã entre outros derivados da mandioca que é a rainha do Brasil com maior valor agregado. Para esta evolução acontecer, associamos ao saber da culinária ancestral do Culinária de Terreiro com outras formas de renda, na criação de cursos online voltados à comida de terreiro, num projeto que possivelmente se estenderá até o próximo ano, começamos com aulas de preparo do Acarajé, atualmente desenvolvemos uma vivência on-line qual chamamos de “Segredos do Tabuleiro da Baiana”, visando não apenas o fortalecimento da nossa cultura ancestral mas a troca de conhecimento entre outros povos, assim, como também a geração de renda que auxiliará para o desenvolvimento de mais projetos e empreendimento para nossa comunidade. Este conjunto de cursos irá se transformar num e-Book com algumas das nossas receitas típicas da Culinária Afro-Brasileira, num registro material da nossa cultura e daquilo que vivemos e acreditamos aqui na comunidade.


— Falei um pouco sobre o nosso caminhar e, agora vamos a resposta para muitas das perguntas que me deparo por aí. Afinal, quais a comidas de santo que não se come? Quais comidas de Terreiro de Candomblé que podemos comer?


Perguntas como essas, me ocorrem com frequência, em lives que faço no Instagram e/ou YouTube. Então, decidi abrir aqui essa conversa com vocês. Mediante a essas indagações, trouxe algumas reflexões, a partir das minhas vivências e experiências compartilhadas tanto nós terreiros quanto nos eventos culturais, Claro.


Durante a minha vivência nos últimos 58 anos, tanto em minha vida comum, quanto, em Terreiros de Candomblé aprendi desde cedo com Mainha que não existe comida de santo que não se coma, a não ser que a pessoa se encontre com alguma restrição alimentar ou religiosa para os adeptos da religião de Matriz Africana.

Estou dizendo isso, por conta da minha experiência, daquilo que vivo, sim... pode ser que você por aí tenha outras possibilidades, acho supernormal, a priori vocês sabem que a cultura tem suas variantes, se tratando da religião cada Casa ou Terreiro segue uma litúrgica a qual devemos respeita-la.

Mainha sempre foi de Candomblé, desde minha infância acompanhava nas festividades, mesmo com as restrições dos anos 70, e cuidou dedicadamente dessa questão ancestral, precisamente no ano de 1981 ela foi iniciada na religião, seguindo Mainha entrei também para o Candomblé, nossa família hoje já é a quarta (4º) geração seguindo essa tradição. Vale ressaltar que eu entrei para o Candomblé por amor, por ver minha mãe cuidando do Santo dela, cuidando das coisas dela, das roupas, dos ingredientes que levava para o Santo, então esse amor me entusiasmou muito para entrar no candomblé e quando fui suspensa para ser Kilede, de fato entendi sobre as comidas desde o preparo até servir ao convidados, por isso essa história que o povo diz que vende comida de santo, fico me perguntando, se essa comida é sacralizada, uma coisa é utilizar dos conhecimentos ancestrais da culinária afro-brasileira e produzir esses preparos para degustação, ou venda, outra é ofertar ao Santo, portanto para mim, comida sacralizada não deve ser vendida, mais, lógico! Pode ser comida.


Deixo aberto os comentários para ouvir e tentar responder da melhor forma as dúvidas de vocês.



Acompanhe a gente nas redes sociais:

Instagram @culinariadeterreiro

Facebook Culinária de Terreiro